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Às vezes é só chegar na altura certa”. Saúde mental e risco de suicídio

“É importante falar sobre estas coisas, às vezes é só chegar na altura certa”

O especialista afirma que a saúde mental deve ser reforçada nos cuidados de saúde primários e lembrou que “no mundo, [o suicídio] é a segunda causa de morte mais frequente dos jovens dos 15 aos 29 anos”. 

Nesta medida, o que é preciso fazer para garantir os cuidados devidos a quem se debate com problemas de saúde mental? Miguel Rocou defende que na “saúde psicológica há duas dimensões” a ter em conta.

A primeira é a “literacia em saúde psicológica que é ensinar às pessoas coisas sobre elas próprias” de forma a saberem agir e reagir em certas circunstâncias. “Faz muita falta, é muito importante a literacia psicológica”, aponta o psicólogo indicando que esta faz falta nos cuidados primários. “É importante falar sobre estas coisas, às vezes é só chegar na altura certa”, acrescenta ainda. 

A segunda dimensão a ter em conta é a acessibilidade a este tipo de ajuda. Além do fator financeiro, que muitas vezes é um entrave, existe ainda o fator “estigma” de se recorrer a um psicólogo. Miguel Ricou defende que é preciso facilitar este acesso nos cuidados de saúde primários. 

“Era fundamental que o acesso a esta ajuda fosse mais fácil, tudo o que dificulta o acesso pode ser bastante grave”, sublinha dando o exemplo de que uma pessoa que tome o passo de pedir ajuda “não consegue ir ao centro de saúde e pedir uma consulta de psicologia”, tendo primeiro de recorrer ao médico de família para requisitar este aconselhamento. 

“Mesmo a própria linha SNS24 não consegue referenciar diretamente as pessoas que lá recorrem para consultas de psicologia”, sublinha Ricou apontando que esta é uma luta que a Ordem dos Psicólogos anda “a lutar há muito tempo”. Os cuidados de saúde primários devem ser “a porta de entrada” para quem recorre a ajuda. 

Como perceber que algo não está bem?

Quanto a possíveis sinais de que algo possa não estar bem, o psicólogo alerta que “são os óbvios” como “mudanças de comportamento bruscas e continuadas” que devem chamar à atenção não só no que diz respeito à questão do suicídio como também à questão da saúde mental, como por exemplo questões de ansiedade. Miguel Ricou sublinha, no entanto, que apesar destes possíveis sinais, numa questão como a do suicídio não há culpas e é preciso salientar isso mesmo. 

“Aqui não há culpas, fatores que determinam um acontecimento destes são variadíssimos, é como um acidente, seria evitável mas não é culpa de A, B, C ou D que não conseguiu evitar”, sublinha ressalvando que estes casos afetam em média seis pessoas e que aqui não pode haver o fator da culpabilidade, ou se viu este ou aquele sinal. “É como uma doença qualquer ou como um acidente”, enfatizou. 

Nas escolas 

O psicólogo defende que nas escolas se deve investir na literacia psicológica anteriormente referida e que essa é muitas vezes a melhor forma de prevenção não só de questões como a do suicídio como de outras questões mentais.

Miguel Ricou diz “desconhecer” se existe algum tipo de protocolo nas escolas de modo a prevenir estas situações, mas admite que existam. 

Com a pandemia, a questão da saúde mental e os riscos associados também aumentaram.

“É evidente que a pandemia é sempre um fator de risco para tudo”, começa por dizer adiantando que isto não se deve apenas à  pandemia em si, mas em especial porque esta “diminuiu o acesso aos cuidados”.  

Para concluir, Miguel Ricou sublinhou a necessidade de se falar mais sobre o assunto de modo a garantir que as pessoas não tenham medo de pedir ajuda, mas também facilitar o acesso a essa mesma ajuda, evitando obstáculos. 

Serviços telefónicos de apoio emocional e prevenção ao suicídio em Portugal:

SOS Voz Amiga (entre as 16h e as 24h) –  213 544 545 (Número gratuito) – 912 802 669 – 963 524 660 

Conversa Amiga (entre as 15h e as 22h) – 808 237 327 (Número gratuito) e 210 027 159

SOS Estudante (entre as 20h e a 1h) – 239 484 020 – 915246060 – 969554545

Telefone da Esperança (entre as 20h e as 23h) – 222 080 707 

Telefone da Amizade (entre as 16h e as 23h) – 228 323 535

Todos estes contatos garantem anonimato tanto a quem liga como a quem atende. No SNS24 (808 24 24 24), o contacto é assumido por profissionais de saúde. Deve selecionar a opção 4 para o aconselhamento psicológico. O serviço está disponível 24h/dia, 7 dias por semana.